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Semanada
Nº 0 — 5-Out-98 – 7-Out-98

INTERNET NA ESCOLA - O Ministério da Ciência e Tecnologia fez aquilo que o Ministério da educação devia ter feito há muito e não fez: dotou as escolas com meios informáticos para utilizar a internet. Agora compete às escolas utilizar eficazmente as ferramentas que têm nas mãos. Para já, são ainda poucas aquelas que publicaram as suas páginas, quase sempre com conteúdos irrelevantes. Vamos lá a ver se há imaginação e competência para fazer melhor!

QUEDA DA BOLSA - O final da semana passada e o início da presente foram marcados por uma queda acentuada nas bolsas de valores de todo o mundo. E, segundo os analistas, esta tendência deverá manter-se por mais algum tempo, apesar de hoje (6/10) a generalidade das bolsas terem fechado em alta. Quanto tempo, é uma incógnita. Esta instabilidade bolsista é um reflexo das dificuldades económicas sentidas um pouco por todo o lado, da Ásia à América Latina, passando pela Rússia. Numa economia globalizada era inevitáve que os efeitos da crise atingissem de alguma maneira o coração da economia capitalista — a Europa e os Es tados Unidos.

GREVE DOS MÉDICOS - A classe médica está envolvida, há algum tempo, num movimento grevista que ameaça prolongar-se. As reivindicações são fundamentalmente de natureza financeira. Para que tenha sucesso e consiga dobrar o governo é necessário que a opinião pública aceite a ideia de que a melhoria salarial se traduzirá numa melhoria do atendimento. Não me parece que isso aconteça. É até possível que os médicos venham a ser responsabilizados pelo agravamento da qualidade do serviço. É óbvio que a ministra da saúde aposta nisso. Por outro lado, a ideia generalizada de que os médicos têm rendimentos elevados, o que é verdade quando acumulam a medicina pública com a privada (e quem não acumula!), faz com que as suas reivindicações sejam pouco populares. Além disso, não se percebe muito bem por que razão o SIM exige a equiparação salarial dos médicos com horário completo aos que estão em regime de dedicação exclusiva (Será isto?). É suposto que, a situações funcionais diferentes, correspondam diferentes obrigações e diferentes remunerações.

CLINTON - Continua a trapalhada dos deslizes sexuais do presidente. Aos olhos da opinião pública a questão é irrelevante, mas a oposição republicana anda a ver se consegue dar ao caso suficiente consistência jurídica. A verdadeira questão é esta: quando somos forçados a mentir, será que a mentira é crime? Um caso a seguir nas próximas semanas, não pelos seus aspectos escabrosos, mas pelos reflexos que inevitavelmente vai ter ao nível político e económico.

CORRUPÇÃO NA JAE - O general Garcia dos Santos, três meses depois de ter abandonado a presidência da Junta Autónoma das Estradas, em entrevista pública, acusou esse organismo estatal de praticar a corrupção, nomeadamente pelo financiamento ilegal de partidos políticos. A ser verdade (é necessário usar esta ressalva, porque em questões deste melindre não se pode dispensar uma confirmação técnica), é fácil perceber quais seriam os partidos beneficiados, obviamente aqueles que rondam a área do poder. Que os partidos, em situação de campanha eleitoral, ostentam uma vitalidade financeira invejável, é um facto. Que as dotações orçamentais e as contribuições de militantes e simpatizantes não explicam essa vitalidade, é outro facto. Na mente dos cidadãos, fica a dúvida. donde vem a diferença?

JAE (2) - Ainda a propósito das acusações do gen. Garcia dos Santos. Que há vários organismos públicos, entre eles a JAE, que movimentam directamente verbas vultosas (estamos a falar de milhões de contos) é um facto. Que muitas empresas privadas, nomeadamente construtoras, vivem fundamentalmente de serviços prestados ao Estado, outro facto. Que, por esse motivo, a contratação de serviços por parte do Estado se presta a negociatas pouco transparentes e de legalidade duvidosa, é uma suspeita generalizada há muitos anos. Daí, a concluir que o general poderá ter razão nas denúncias que fez, o passo é tão curto que já toda a gente o deu. No entanto, a actuação de Garcia dos Santos é perturbante (O ministro Cravinho chegou a falar de 'inconsequência mental'!): Porque deixou passar três meses depois da demissão para fazer a denúncia? Porque não a fez enquanto era presidente da JAE? Se a fez, a quem e quais as consequências? Porque optou por fazer a denúncia através da imprensa, em vez de se dirigir às autoridades competentes? Vamos ver se nos próximos tempos obtemos respostas concludentes para estas e outras perguntas.

REGIONALIZAÇÃO - À medida que a data do referendo se aproxima, a discussão vai-se acirrando. Amanhã (7/10) a SIC vai realizar o 2º debate dedicado a este tema. Se decorrer como o 1º é provável que as abstenções venham a subir em flecha — muita gente, simplesmente, desiste de tentar perceber o que é a regionalização. Os que conseguirem aguentar até ao fim, o mais certo é que se inclinem para o NÃO, pois a barafunda do debate é uma boa antecipação do que serão, provavelmente, os conflitos entre regiões.

PROPINAS - As associações académicas preparam-se para relançar o processo de contestação à política do governo no sector, reivindicando melhor qualidade de ensino e a suspensão da lei das propinas. Se já no ano passado a adesão não foi significativa, muito menos o será agora. Ao contrário do que os dirigentes estudantis parecem pensar, ninguém considera excessiva a importância exigida pela frequência das universidades públicas (56 contos/ano). Só a farpela académica custa mais do que isso! E quem não poupa no acessório pode bem pagar o essencial. Recomenda-se aos líderes estudantis imaginação e, principalmente, seriedade.

MARCELO x BELMIRO - Marcelo Rebelo de Sousa foi ao parlamento reiterar as acusações, feitas no Congresso do PSD, de favorecimento da SONAE pelo governo. Na audição parlamentar, curiosamente, manteve o tom acusatório, mas mudou um pouco de discurso: acusou o IPE de má gestão do dinheiro público, ao adquirir à SONAE uma participação que meses antes tinha sido transaccionada por um quarto ou um quinto do valor agora pago e apresentou números para comprovar as suas afirmações: contas de merceeiro, facilmente compreensíveis pelo comum dos mortais, que pareciam corroborar inteiramente as suas acusações. Dias depois, a mesma comissão parlamentar, ouviu Lobo xavier, na qualidade de especialista em direito fiscal, que, falanto em termos abstractos, isto é, sem nunca referir as empresas em causa, explicou ser normal e legal, neste tipo de negócio, o recurso a uma empresa intermediária, com o objectivo de se obter ganhos fiscais. Acrescentou que é perfeitamente possível o valor de mercado de uma empresa alterar-se substancialmente em poucos meses, nomeadamente em resultado da aquisição por um outro grupo. Obviamente ficámos sem saber se essas situações se aplicam ao caso IPE-SONAE. O que ficou claro é que, a este nível, as coisas são complexas não se podem reduzir às quatro operações aritméticas.

REVOLUÇÃO CUBANA- Há 40 anos o regime ditatorial e pró-americano de Fulgêncio Batista caía em Cuba, sob o ataque dos rebeldes chefiados por Fidel Castro. O regime era corrupto e caiu de podre: ironicamente o fim do ano de 1958 coincidiu com o fim do regime; e o Ano Novo parecia nessa altura o início de uma nova era para Cuba e para os outros países dominados pelo imperialismo. Durante alguns anos a ilusão revolucionária manteve-se e para isso muito contribuiu a acção quichotesca de Che Guevara. Essa quimera tombou na selva colombiana, quando o seu mentor caíu às balas do inimigo. Depois, para Cuba, foi a dependência total da União Soviética. Quando esta, por sua vez, desapareceu, o progresso desapareceu também de Cuba e só ficou a miséria, a mesma miséria que afligia os cubanos há 40 anos. Mas Fidel não desiste. Desistir agora seria reconhecer um erro com dezenas de anos.

Copyright © 1998 Jorge Santos
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