INÍCIO | LITERATURA | ACTUALIDADE | EDUCAÇÃO | INFORMÁTICA | ARQUIVO | MEMÓRIA | MAPA |
BIBLIOGRAFIA
José de Sousa Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922, em Azinhaga (Golegã), no Ribatejo, embora a sua certidão de nascimento aponte a data de 18. A razão para a discrepância é a habitual: o registo foi feito fora do prazo legal e para não pagarem a multa, os pais alteraram a data. O menino estava destinado a ser "José de Sousa", como o pai, já que a mãe, Maria da Piedade, não possuía nenhum apelido que pudesse deixar de herança ao filho. Por motivos nunca esclarecidos, o funcionário do registo civil enganou-se e acrescentou a alcunha familiar ao nome do pequeno José — "Saramago", nome de uma variedade de ervas daninhas. Com frequência acontecia isto: a alcunha de um indivíduo colava-se à família e, não poucas vezes, era aceite como apelido. Graças a esse desleixo burocrático, o pequeno José pôde enfrentar a vida, não com um anónimo "de Sousa", a pedir uma operação de pseudonímia urgente, mas com um sonoro e inconfundível "Saramago".
Aos dois anos a família transferiu-se para Lisboa, à procura de melhores condições. É nessa altura que o pai ingressa na Polícia de Segurança Pública, mas as dificuldades económicas permanecem. Pouco depois, o seu único irmão, Francisco, dois anos mais velho, morreu em consequ~encia de uma broncopneumonia.
Em 1929 iniciou a escola primária, matriculando-se depois no Liceu Gil Vicente. Vem-lhe dessa altura o gosto pela leitura: sem acesso a livros, passava a pente fino as páginas do "Diário de Notícias". Em 1934 as dificuldades económicas fazem-se sentir e José transita para a Escola Industrial Afonso Domingues, concluindo o curso de Serralharia Mecânica em 1939. Logo de seguida, obtém o primeiro emprego nos Hospitais Civis de Lisboa. Por meio da leitura, procura melhorar a sua formação intelectual, frequentando a biblioteca do palácio das Galveias. É aí que inicia o seu contacto com a literatura.
Em 1942 é transferido para os serviços administrativos do Hospital Civil de Lisboa e no ano seguinte passa a trabalhar na Caixa de Abono de Família da Indústria da Cerâmica. Casou em 1944 com a pintora Ilda Reis, de quem se divorciaria em 1970. Anos depois, em 1947, nasce a filha Violante e publica a primeira novela, Terra do Pecado. Saramago havia-lhe atribuído outro título — A Viúva — mas o editor propôs "Terra do Pecado" e assim ficou. Naturalmente o livro passou despercebido e foi esquecido; o próprio autor retirou-o da sua bibliografia e só em 1997 ele voltará a ser lembrado. Outra novela, Clarabóia, escrita posteriormente, permanece inédita; o manuscrito, entregue a uma editora para apreciação, por lá ficou perdido e só em 1990 reapareceu. Depois dessa primeira experiência, Saramago interrompe a escrita, que sóretomará em 1966, ao publicar Os Poemas Possíveis.
Em 1949, o apoio à campanha de Norton de Matos à Presidência da República leva-o a perder o emprego na caixa de Abono de Família da Indústria da Cerâmica. No ano seguinte conseguiu ingressar na Caixa de Previdência da Companhia Indústrias Metálicas Previdente, onde permanecerá até 1959. Em 1955 começou a colaborar com a Editorial Estúdios Cor, à qual se dedicou em exclusivo desde 1959 até 1971, como editor literário.
Em 1966 retomou a actividade literária, publicando o seu primeiro livro de poesia, Os poemas possíveis. Daí em diante a escrita tornou-se uma actividade permanente. Em 1968 iniciou a actividade jornalística, publicando textos de crítica literária na revista Seara Nova e, em 1972, começou a trabalhar no Diário de Lisboa, passando, no ano seguinte, a dirigir o suplemento literário do jornal. Colaborou também com a revista Arquitectura (1974). Entretanto, em 1969, aderiu ao Partido Comunista Português, ao qual permaneceu fiel até hoje. No entanto, em 1988 foi um dos subscritores do "documento da terceira via".
Após o 25 de Abril chegou a trabalhar no Ministério da Comunicação Social, como assessor. Também nessa altura chegou a coordenar uma equipa de dinamização cultural no Fundo de Apoio aos organismos Juvenis (FAOJ). Em 1975 é nomeado director-adjunto do Diário de Notícias, mas é dispensado após o 25 de Novembro. A partir desta altura dedica-se exclusivamente à escrita e procura subsistir fazendo traduções. Durante alguns meses de 1976 convive com os trabalhadores da União Cooperativa de Produção Boa Esperança, em Lavre, Montemor-o-Novo, saindo dessa experiência o livro Levantados do Chão, publicado em 1980.
Fez parte da primeira direcção da Associação Portuguesa de Escritores (APE) e, entre 1985 e 1994, foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).
Nos anos seguinte vai construindo a sua obra literária e ganhando projecção, nacional e internacional, acumulando prémios e homenagens:
1979 - Prémio da Associação de Críticos Portugueses.
1980 - Prémio Cidade de Lisboa.
1982 - Prémio do Pen Clube Português e Prémio Literário do Município de Lisboa.
1984 - Prémio do Pen Clube Português e Prémio D. Dinis.
1985 - Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada; Prémio da Crítica pelo conjunto da obra.
1987 - Prémio Grinzane-Cavour (Itália), pela obra O Ano da Morte de Ricardo Reis; Doutor honoris causa pela Universidade de Turim.
1991 - Grande Prémio de Novela da Associação Portuguesa de Escritores; Prémio Bracati (Itália); Doutor honoris causa pela Universidade de Sevilha; Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas.
1992 - Prémio Internacional Ennio Faiano (Itália), por Levantados do Chão e Prémio Internacional Literário Mondello (Itália).
1993 - Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores; Membro do Parlamento Internacional de Escritores, em Estrasburgo; Prémio The Independent (Reino Unido) e Prémio Vida Literária da APE.
1994 - Membro da Academia Universal das Culturas (Paris); Sócio da Academia Argentina de Letras.
1995- Doutor honoris causa pela Universidade de Manchester (Reino Unido); Prémio Consagração da Sociedade Portuguesa de Autores.
1996 - Prémio Camões.
1998 - Prémio Nobel de Literatura.
É ainda membro honoris causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa.
O romance Memorial do Convento inspirou uma ópera (Blimunda), escrita pelo compositor italiano Azio Corghi e estreada em 1990, em Milão. Mais tarde, em 1993, Corghi escreveria uma outra ópera (Divara), com libreto extraído da peça de Saramago In Nomine Dei, levada à cena em Munster (Alemanha). E em 1995 é encenada no palco da Igreja de S. Marco, com música de Azio Corghi, a peça La Morte de Lázaro, inspirada em obras de Saramago (In Nomine Dei, Evangelho segundo Jesus Cristo e Memorial do Convento).
Em 1991 publicou o Evangelho segundo Jesus Cristo, obra incómoda para os sectores mais tradicionais da sociedade portuguesa, tendo o Subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, vetado em 1992 a sua candidatura ao Prémio Literário Europeu.
Em 1988 casou com a jornalista espanhola Pilar del Rio e desde 1992 reside em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A 8 de Outubro de 1998, a Academia Sueca atribuiu-lhe o Prémio Nobel de Literatura. A 3 de Dezembro desse ano, o Presidente da República, Jorge Sampaio, concedeu-lhe, a título excepcional, o Grande Colar da Ordem de Santiago da Espada, distinção reservada tradicionalmente a chefes de estado.
Estudos sobre José Saramago
BASTOS, Baptista - José Saramago: Aproximação a um retrato, Lisboa, Dom Quixote, 1996
KAUFMAN, Helena I. - Ficção histórica portuguesa da pós-revolução, Madison, 1991
LOPES, Óscar - Os sinais e os sentidos, Lisboa, 1986
SEIXO, Maria Alzira - O essencial sobre José Saramago, Lisboa, INCM, 1987
SILVA, T. C. Cerdeira da - Entre a história e a ficção, Lisboa, Dom Quixote, 1989