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BIOGRAFIA
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada? Como as estátuas, que são gente nossa
Chamo aos gritos por ti – não me respondes.
Mãe:
MIGUEL TORGA
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Miguel Torga é o pseudónimo literário de Adolfo Correia da Rocha.
Nasceu em S. Martinho de Anta (Sabrosa), pequena
aldeia de Trás–os–Montes, no distrito de Vila Real, em 12 de Agosto
de 1907 e morreu em Coimbra, em 1995.
Em 1918 ingressou no seminário de Lamego,
para iniciar os estudos liceais, donde saiu ao fim de um ano. Entre 1920
e 1925 esteve emigrado no Brasil, tendo trabalhado na fazenda de um tio,
em Santa Cruz (Minas Gerais). Ainda no Brasil, chegou a frequentar o ensino liceal em Leopoldina, a expensas do tio, que continuou a ajudá-lo financeiramente noa anos seguintes. De regresso a Portugal, em apenas três
anos lectivos completou o ensino liceal e ingressou na Faculdade de Medicina
de Coimbra em 1928, tendo concluído o curso em 1933.
Logo em 1934 adopta o pseudónimo literário
de Miguel Torga, que manteria ao longo de toda a sua vida, como que a demarcar
claramente o homem do escritor. Com ele marca de forma indelével a sua ligação à terra natal, já que "torga" é, afinal, a urze, planta espontânea no norte e centro do país.Obtida a especialização em
otorrinolaringologia, acaba por estabelecer-se em Coimbra, em 1939, onde
permanecerá até ao fim da vida. Nesse mesmo ano casa com
Andrée Crabbé, belga de nascimento, e professora da Universidade
de Lisboa.
A partir de 1937 viaja com frequência, percorrendo
vários países, mas esse contacto com o mundo parece reforçar
cada vez mais o seu apego às origens — Trás-os-Montes, Portugal,
a Ibéria.
Em 1960 é proposto pela primeira vez para
o Prémio Nobel, nomeação que viria a ser reiterada
em 1978, como manifestação do reconhecimento crescente pela
sua obra.
O início da sua actividade literária,
coincidente com a sua entrada na universidade, está ligado ao grupo
da revista "Presença" (1927), do qual se veio a desligar em 1930 para fundar
com Branquinho da Fonseca, outro presencista dissidente, a revista "Sinal",
de que saiu apenas um número. Posteriormente, em 1936, esteve ligado
ao lançamento da revista "Manifesto", juntamente com Albano Nogueira,
da qual foram publicados cinco números. A partir daí manteve-se
afastado dos grupos literários e dos próprios circuitos editoriais
Esse alheamento face a grupos e tendências
reflecte-se na sua produção literária, onde os modismos
estéticos e as filiações ideológicas estão
ausentes. O seu percurso literário estende-se pelo século
XX fora, à margem das capelas, das tendências, dos grupos,
explorando os seus próprios centros de interesse, os motivos que
lhe eram caros, numa linguagem própria — alheio aos grupos e ideologias,
mas atento ao mundo, sobretudo ao mundo rural, à terra, a essa identidade
geográfica, histórica e cultural que era a Ibéria.
A vida urbana parece estar ausente dos seus textos.
O que encontramos em todo o lado é a vida rural, melhor dizendo,
um ambiente agro-pastoril primitivo, em que a modernidade está ausente,
anterior à domesticação do mundo, a rudeza do homem
irmanada à força da natureza; um homem que penosamente se
ergue da terra e procura construir a sua dignidade. Sobretudo na poesia,
recorre com frequência a imagens bíblicas, adequadas a exprimir,
quer essa rudeza ancestral, quer um fundo de religiosidade que perpassa
pela sua obra.
O mesmo apego que manifestava à terra manifesta-o em relação à família — o pai e a mãe, a mulher e a filha. Inversamente, mantém em relação aos outros um distanciamento tímido. Refugia-se na solidão e na escrita. Distante, foi sempre um homem de temperamento difícil, orgulhoso com os grandes, mais afável com os humildes. O mesmo distanciamento face ao poder político, antes e depois da democracia.
Durante mais de meio século manteve um
diário literário, onde as notas em prosa alternam com a poesia,
e que é, pelas suas características e duração,
uma obra ímpar na literatura portuguesa.
Foram-lhe atribuídos, entre outros, o Prémio
Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional
de Poesia (1976), o Prémio Montaigne (1981), o Prémio Camões
(1989), o Prémio Vida Literária da APE (1992) e o Prémio
da Crítica, consagrando a sua obra (1993).
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