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O Dr. António Vitorino era a pessoa que eu mais apreciava no governo do Eng. António Guterres. Pareceu-me sempre eficaz, sensato, conciliador e dotado de um sentido de humor contagiante e capaz de resistir a tudo.
De repente foi confrontado pela imprensa com declarações falsas que teria prestado ao fisco por ocasião da compra de um monte no Alentejo. Prontamente, confessou a irregularidade e apresentou a sua demissão, atitude louvável, pois é sabido que outros, em situações semelhantes, desconversaram e só largaram os lugares in extremis.
Desde o início se percebeu que não havia sonegação de impostos e que o Dr. António Vitorino não devia nada ao Estado. Isso acabou por ser confirmado pela administração fiscal e agora pela Procuradoria-Geral da República. Mesmo assim a oposição e a imprensa zurziram-no (sem grande convicção, é verdade).
O argumento era que um político, mormente com as responsabilidades do visado, tem de ser um zeloso cumpridor da lei. Concordo com o princípio. Convém é que não se restrinja aos políticos. Reformulando: TODA A GENTE deve cumprir escrupulosamente a lei. E aqui é que a porca torce o rabo. Se a maioria de nós não mata, não rouba, não trafica droga, nem comete outros crimes de idêntico quilate, quando se trata de pagar impostos lemos quase todos pela mesma cartilha daqui não sai um tostão, se o puder evitar. E muitos evitam! Então quando se trata de prestar declarações para efeitos de sisa, a rebaldaria é geral!
Ora, meus amigos, para mim, muito mais grave do que o deslize do Dr. Vitorino é essa coisa feia, hipócrita, de lhe apontar o dedo por um acto que nós cometemos todos os dias, tranquilamente, serenamente, piscando risonhamente o olho ao funcionário das finanças.
(Abril/98)