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BIBLIOGRAFIA
José Régio é o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira. Nasceu em Vila do Conde, em 17/9/1901, e aí faleceu a 22/12/1969.
Concluído o ensino primário, matriculou-se no Instituto Secundário, prestando exames externos no Liceu Rodrigues de Freitas. Em 1920 ingressou na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Filologia Românica (1925). É aí que inicia a actividade literária e adopta o pseudónimo com que ficaria conhecido.
Foi professor no Porto, no Liceu Alexandre Herculano, e depois em Portalegre, a partir de 1929, tendo aí permanecido mais de trinta anos. Esta escola tem-no hoje como patrono. As férias passava-as habitualmente em Vila do Conde e foi aí que se fixou definitivamente, depois de se reformar, em 1962. Durante a sua longa permanência em Portalegre, a par das ocupações profissionais e do intenso labor literário, dedicou-se à recolha de peças de arte sacra. Essa colecção constitui hoje o recheio de um museu dedicado ao poeta.
Em 1927, juntamente com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, fundou a revista "Presença" e iniciou um movimento que viria a marcar profundamente a literatura portuguesa no período anterior à guerra, constituindo uma espécie de 2º modernismo. A sua estreia literária data de 1925, altura em que publicou a sua obra mais conhecida "Poemas de Deus e do Diabo". Além da poesia, dedicou-se ao teatro, ficção e crítica literária.
A sua obra explora quase obsessivamente as contradições do ser humano, oscilando dramaticamente entre "Deus e o Diabo". Sobretudo numa primeira fase, situada entre 1925 e 1936, é muito perceptível uma tendência introspectiva, procurando apreender poeticamente as contradições psicológicas do ser humano, permanentemente dividido entre o que de melhor e pior tem. Essa análise interior é acompanhada por uma crítica da convivência humana, igualmente contraditória. Por detrás dessa atitude está evidentemente o clima cultural da primeira metade do século, com a afirmação da ciência psicológica, inclusive a psicanálise, e a difusão de correntes literárias de raiz psicologista. Além desta influência, é possível detectar ainda o influxo do modernismo e do saudosismo, bem como do Evangelho.
Perceptível igualmente é a busca do absoluto, melhor dizendo, da graça divina, única via para a superação dessas contradições profundas. O sentimento dessa divisão interior traduz-se numa elaboração poética de estrutura dramática, com o aparecimento de "personagens" íntimas, que dialogam e se confrontam, e tem desenvolvimentos na ficção e no teatro de Régio.
A temática incide sobre a vida interior do ser humano, com as suas contradições, a aspiração ao alto e a atracção do abismo... As preocupações religiosas são outra constante da sua obra, afinal outra forma de afirmação da contradição humana. Mergulhado nesse conflito insolúvel, o homem aparece sempre como um ser inacabado, imperfeito, permanentemente dividido entre a carne e o espírito, entre o céu e a terra. Não encontramos nele, nem o optimismo racionalista dos descrentes, nem a tranquilidade confiante dos crentes.
Para ele, a literatura é a expressão do indivíduo, livre de tendências, regras, espartilhos ideológicos, mas não se reconhece na "arte pela arte", já que ela é "um livre e peculiar meio de expressão do humano". Evidente, nele, é a crença numa espécie de intuição anterior à própria criação artística.
A peça "Benilde ou a Virgem-Mãe" foi adaptada ao cinema por Manoel de Oliveira.
Em 1970 foi-lhe atribuído, a título póstumo, o Prémio Nacional de Poesia, pelo conjunto da sua obra poética. Vila do Conde e Portalegre, as duas cidades onde José Régio passou a sua vida, homenageram o poeta, transformando as suas residências em museu.