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Alexandre Herculano

 

BIBLIOGRAFIA

 

Alexandre HerculanoAlexandre Herculano de Carvalho Araújo nasceu em Lisboa, a 28 de Março de 1810, no seio de uma família da classe média. O pai era recebedor da Junta dos Juros

Entre 1820 e 1825 frequentou o colégio dos Oratorianos, mas não chegou a entrar na Universidade, porque em 1827 o pai cegou e teve que abandonar o lugar que ocupava. Fechada essa porta, matriculou-se na Aula de Comércio e frequentou um Curso de Diplomática. Particularmente estudou também francês, inglês e alemão. Embora o seu conhecimento destas duas últimas línguas não fossem profundos, serviram-lhe pelo menos para avivar a sua receptividade à literatura coeva desses países, o que não era muito frequente em Portugal.

Herculano perfilhou sempre uma ideologia conservadora, mas não parece haver razões para seguir a opinião expressa por Teófilo Braga, que afirma ter sido na juventude um miguelista convicto. A verdade é que, em Agosto de 1831, aparece-nos comprometido com uma malograda revolta militar que o obrigou a procurar refúgio num navio francês, surto no Tejo. Daí saiu para o exílio em Inglaterra e França: primeiro Plymouth, depois Jersey, a seguir Saint Malo e finalmente Rennes. No fundo um percurso semelhante ao de Garrett e outros activistas liberais. Foi exactamente em Rennes que Herculano teve oportunidade de frequentar a biblioteca pública da cidade. Pôde então familiarizar-se melhor com as obras de Thierry, Vítor Hugo e Lamennais.

Tal como Almeida Garrett e outros jovens exilados alistou-se no exército liberal que, no início de 1832, se dirigiu aos Açores e depois ao Porto.

Nesta cidade, foi nomeado em 22 de Fevereiro de 1833 para coadjuvar o director da Biblioteca Pública, organizada a partir do acervo da livraria do bispo Exerceu o cargo até Setembro de 1836, quando pediu a exoneração, por discordar do juramento de fidelidade à Constituição de 1822, que lhe era exigido. Na carta de demissão declara-se fiel à Carta Constitucional. Coerente com as suas convicções políticas, opõe-se ao Setembrismo, que daqui em diante irá combater. Voltou a Lisboa para, através do jornalismo, combater os adversários políticos. É então que publica A Voz do Profeta (1837).

Torna-se redactor principal do O Panorama, editada pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis. Foi aí que publicou vários dos seus estudos de natureza histórica e muitas das suas obras literárias, mais tarde editadas em livro: A Abóbada, Mestre Gil, O Pároco de Aldeia, O Bobo e O Monge de Cister.

Ainda nesse ano de 1837 assumiu a responsabilidade da redacção do Diário do Governo, que nesse tempo era apenas um jornal de suporte ao partido no poder. No entanto, pouco tempo depois abandonou o lugar. No ano seguinte publicou A Harpa do Crente.

Em 1839 foi nomeado, por iniciativa do rei D. Fernando, para dirigir a Biblioteca Real da Ajuda e das Necessidades, tendo conservado esse cargo quase até o fim da vida.

Em 1840 chegou a passar pelo Parlamento, eleito pelo círculo do Porto, como deputado do Partido Cartista (conservador), mas o seu temperamento adequava-se mal à actividade política. As manobras partidárias enojavam-no e sentia dificuldade em falar em público.

A pouco e pouco foi-se afastando da actividade política e dedicando o seu tempo à literatura. Os anos seguintes são de grande produtividade literária. São desta época os seus romances de ambiente histórico. É também na década de 40 que inicia a publicação da sua História de Portugal, seguramente a primeira escrita com preocupação de rigor científico. Aliás, o primeiro volume suscitou de imediato violenta reacção por parte de alguns sectores do clero, por excluir, naturalmente, qualquer intervenção sobrenatural na batalha de Ourique. A polémica sobre esta questão ficou famosa. Note-se que Herculano era católico e politicamente conservador, mas opunha-se à interferência da igreja na vida política nacional. Esse confronto com sectores clericais está também na origem dos seus estudos sobre a Inquisição em Portugal.

Em 1851, voltou por algum tempo à política activa, com o triunfo da Regeneração, chegando a colaborar com o governo, embora por pouco tempo. Mais prolongada foi a sua intervenção cívica através da imprensa. Em 1851 fundou o jornal O País e dois anos depois O Português.

Sócio correspondente da Academia Real das Ciências desde 1844, em 1852 foi admitido como sócio efectivo e eleito vice-presidente em 1855. Em 1853, por encargo da Academia, percorreu o país, inventariando os documentos existentes nos arquivos episcopais e nos mosteiros, preparando aquilo que viria a constituir os Portugaliae Monumenta Historica. Pôde então verificar o estado de abandono a que estava votado a maior parte do acervo documental espalhado pelo país.

Em Março de 1856 Herculano renunciou ao seu ligar na Academia e decidiu abandonar os estudos de natureza histórica. Na origem dessa decisão parece estar o facto de ter sido nomeado guarda-mor da Torre do Tombo Joaquim José da Costa Macedo, com quem ele teria tido desinteligências sérias. Essa pausa foi interrompida no ano seguinte, por entretanto se ter aposentado o referido indivíduo. Pôde assim continuar o trabalho de organização e publicação dos Portugaliae Monumenta Historica.

Herculano participou nos trabalhos de redacção do Código Civil, tendo nessa altura defendido o casamento civil a par do religioso. A proposta era inovadora e suscitou forte reacção. Dessa polémica surgiram os Estudos sobre o Casamento Civil.

Juntamente com Almeida Garrett, é considerado o introdutor do romantismo em Portugal. Os seus primeiros contactos com a literatura foram-no em ambiente pré-romântico, nos salões da Marquesa de Alorna, onde entrou por mão de António Feliciano de Castilho. Embora Garrett, onze anos mais velho, se tenha adiantado com a publicação no exílio de Camões e D. Branca, consideradas as primeiras obras inequívocamente românticas, podemos considerar Herculano como o teorizador da nova corrente literária, ao nível interno, pelos artigos que publicou no Repositório Literário do Porto. Por outro lado foi ele que introduziu no nosso país o romance histórico, tão característico do romantismo. A inspiração directa veio-lhe naturalmente de Walter Scott e Victor Hugo.

Os seus méritos de cidadão, escritor e estudioso eram reconhecidos quase unanimemente e foram muitas as honrarias que lhe foram oferecidas. Aceitou algumas de natureza científica, mas as distinções honoríficas recusou-as sempre. Recusou mesmo a sua nobilitação, ao contrário de Garrett e Camilo, para não sair do âmbito das letras, que, como sabemos, morreram viscondes.

Em 1866 casou e, pouco depois, retirou-se para a sua quinta de Vale de Lobos. Aí permaneceu até o fim da vida, ocupado com os seus escritos literários e as lides agrícolas. Foi aí que morreu, a 13 de Setembro de 1867.

 

 

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Jorge Santos © 1999
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